O Boavista sofreu a primeira derrota em casa esta época para o campeonato, ao perder 1-2 com o Beira-Mar, num jogo em que tudo parecia correr de feição após a primeira parte, quando os axadrezados venciam por 1-0 e pareciam ter o encontro controlado. Uma segunda parte com muita infelicidade à mistura acabou por ditar o decepcionante resultado naquela que foi, provavelmente, a melhor assistência da temporada no Estádio do Bessa Século XXI.
Para a partida com a formação aveirense, Rui Bento manteve o 4-3-3, com apenas uma alteração no onze que começou o último jogo, com o Guimarães: saiu o lesionado Sidnei e entrou Márcio Tarrafa. Esta mudança acrescentou uma nuance à manobra ofensiva da equipa, dado que Tarrafa, não sendo um extremo de raiz como Sidnei, procurava, com a bola controlada, flectir para o centro, abrindo espaço na esquerda para aparecer Rui Lima, na tentativa de aproveitar o seu bom pé esquerdo para cruzar.
O encontro começou com numa toada relativamente morna, essencialmente disputado a meio-campo e com alguns passes falhados de parte a parte. O Beira-Mar, mais vocacionado para o jogo directo, procurava surpreender a defensiva da casa com passes longos para as costas da defesa, enquanto que o Boavista, com dificuldades para impôr o seu futebol (feito de circulação de bola, com o esférico sempre junto ao relvado), não conseguia fazer a transição para o ataque a partir do corredor central (os forasteiros colocavam imensa gente de cariz defensivo no sector intermediário), apostando, assim, nas subidas dos laterais e nos passes do central Renato Santos para sair para o ataque. Foram, pois, 15/20 minutos em que as duas equipas se “estudaram” mutuamente, sem grandes riscos.
Pouco a pouco, porém, o Boavista começou a tomar conta do jogo e, com isso, a fazer descer as três linhas do Beira-Mar, ganhando, dessa forma, mais tempo e espaço para pensar e construir o jogo desde trás. Falhava, no entanto, o último passe, aquele que permitiria colocar o esférico em boas condições de ser cruzado para a área. Por isso, o domínio que o BFC começou a conquistar não se reflectia, até aos 10 minutos finais, em oportunidades claras de golo.
Foi, precisamente, à entrada para esse período que Rui Lima, após boa combinação na esquerda com Márcio Tarrafa, consegue penetrar na grande área, pela esquerda, mas acaba por rematar à figura do guarda-redes Palatsi. Estava, mesmo assim, dado o mote para o Boavista crescer e pressionar e foi isso que aconteceu até ao intervalo. Com os dois laterais a funcionar praticamente como segundos extremos, o Boavista conseguia dar largura ao seu futebol e, com isso, circular a bola no último terço do terreno. Em cima dos 45 minutos, concretizava-se, finalmente, o domínio: Diogo Fernandes, desmarcado na direita por Adriano, centra com “conta, peso e medida” para a cabeça de João Tomás, que, contudo, é desviado do caminho da bola por Artur. Grande penalidade justíssima (fica a dúvida sobre se o defesa aveirense não deveria ter visto o cartão vermelho, dado que João Tomás estava em posição extremamente favorável para marcar), que o próprio João Tomás converteu em golo, com um remate colocado para o lado esquerdo de Palatsi, que, apesar de ter adivinhado o lado, não conseguiu chegar à bola. O Intervalo chegava pouco depois, mas com um reparo a fazer ao árbitro Duarte Gomes: o jogo não deveria ter sido interrompido quando o Boavista estava, já na metade contrária do terreno, a sair para um contra-ataque que poderia ter sido muito perigoso. Ficava a sensação, no tempo de descanso, de que o Boavista estava melhor e que tinha tudo para gerir a vantagem e arrecadar os três pontos.
A verdade é que a segunda parte começou com um Boavista mais forte e mais próximo do golo que o Beira-Mar. Uma excelente incursão de Márcio Tarrafa pela esquerda, que entrou na área, mas acabou por ver o lance não ter a sequência correcta, parecia indiciar que o 2-0 seria uma questão de tempo. Dois erros de cálculo de Palatsi, primeiro perante João Tomás, depois diante de Adriano, que saiu de forma hesitante da área para tentar aliviar a bola, acabaram por não ser aproveitados, desperdício que acabou por custar caro ao Boavista. Com o passar dos minutos, o Beira-Mar, não tanto por praticar um futebol de qualidade (porque isso nunca aconteceu), mas sim pela presença física que colocou no último terço do terreno, foi crescendo e empurrando os axadrezados para terrenos mais recuados, sem nunca, no entanto, ameaçar a baliza à guarda de Sérgio Leite. Aos 68 minutos, Rui Bento mexeu pela primeira vez na equipa, tentando refrescar o ataque. Saía Márcio Tarrafa e estreava-se Djibril Djaló, sem isso implicar uma mudança em termos tácticos, já que Djibril ia ocupar o flanco esquerdo do ataque. No entanto, esta substituição acabava por implicar a presença, a tempo inteiro, de Rui Lima no meio-campo, dado que Djibril não tem a tendência que tinha Márcio Tarrafa para flectir para o centro.
O Beira-Mar, todavia, empatava praticamente de seguida, num lance de grande felicidade para os aveirenses e que começou de uma forma bastante duvidosa: o árbitro Duarte Gomes assinalou primeiro pontapé-de-baliza, mas, depois, alterou a decisão e decidiu marcar pontapé-de-canto. Na sequência dessa bola parada, o defesa Kanu acabou por se superiorizar no jogo aéreo e bater Sérgio Leite, que ainda tocou na bola. A formação axadrezada acusou o rude golpe e passou por uma fase de grande desorientação, que o Beira-Mar aproveitou. Aos 77 minutos, Fary apareceu sozinho na grande área e acabou por materializar a reviravolta no marcador, perante um Sérgio Leite sem qualquer hipótese de travar o remate. Ainda assim, no meio de tanta infelicidade boavisteira, é destacar a excelente atitude do avançado senegalês, que, após ser aplaudido quando entrou em campo, pediu desculpa à massa adepta boavisteira pelo golo marcado. E o jogo acabou praticamente aí, já que faltou discernimento ao Boavista para lutar por, pelo menos, um ponto. Rui Bento ainda lançou Ivan Santos para o lugar de Gilberto (substituição que já estava preparada antes do segundo tento aveirense), passando Rui Lima para lateral-esquerdo e Ivan Santos a jogar atrás de João Tomás, mas pouca coisa de relevante aconteceu nos minutos que faltavam. De referir, também, que a actuação do trio de arbitragem contribuiu para a inexistência de motivos de interesse nos últimos minutos da partida, ao assinalarem faltas completamente inexistentes alegadamente cometidas por jogadores do Boavista, quebrando, assim, o ritmo de jogo. Apesar da desilusão evidente nas hostes axadrezadas, o muito público que compareceu no Estádio do Bessa Século XXI brindou, como tem sido hábito, a sua equipa com uma forte ovação, prova de que o campeonato ainda é longo e os boavisteiros acreditam nesta equipa. Mostremos, assim, que esta derrota não nos abalou com uma grande presença de boavisteiros no próximo jogo, em Freamunde, domingo às 11h 15 min da manhã.
____________________
Boavista FC 1 – SC Beira-Mar 2
(João Tomás, aos 45+1 min; Kanu, aos 70 min; Fary, aos 77 min)
Onze Inicial
79 Sérgio Leite
77 Diogo Fernandes
3 Renato Santos
4 Bruno Pinheiro
7 Gilberto
8 Pedro Moreira
27 Bruno Monteiro
23 Rui Lima
80 Adriano
9 João Tomás
35 Márcio Tarrafa
Suplentes
1 Pedro Trigueira
2 Diogo Leite
10 Ivan Santos
14 Benvindo
15 François
18 Rodrigo Fuska
26 Djibril Djaló
Substituições
Márcio Tarrafa por Djibril Djaló, aos 68 min
Gilberto por Ivan Santos, aos 79 min